domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma Segunda Grande Dificuldade: A Lei da Gravidade - Parte 01/02.

A Gravidade, e a lei que a rege em nosso planeta, é a forma menos sutil usada pelo universo para nos dizer que o invisível é real.

Ela puxa para baixo até mesmo as mochilas.

... e declara-se com grande franqueza, contra a obesidade.

A experiência dos que já se aventuraram ao longo do caminho, recomenda que raciocinemos preventivamente, em gramas!

Mas antes mesmo de tratar dessa questão crucial, falarei um pouco sobre a mochila.

A capacidade de armazenamento de uma mochila, é expressa em litros.

Comprei uma mochila de 75 litros.

Só depois de comprá-la, descobri uma recomendação que orienta para a obediência de limites de volumes extremos.

"As mochilas devem ter capacidade mínima de 35 litros e máxima de 50 litros".

Como tudo é questionável, não liguei muito a minha mochila ser maiorzinha, e até lembrei que este pode ser um caso em que poderemos afirmar: "O que abunda, não prejudica".

Mas reconheço que assim já começo levando umas preciosas gramas a mais, que poderiam ter sido evitadas.

A recomendação de não economizar na compra dos itens essenciais (mochila, saco de dormir e botas), aponta em direção a importância de nos assegurarmos da sua qualidade.

No caso das mochilas, grandes fabricantes incorporam ao seu projeto, além da excelência dos materiais, uma funcionalidade cuja importância poderá passar  despercebida a um caminhante de primeira viagem.

Uma mochila recomendável, tem algumas características que são importantes de ressaltar:

Quando chover, não deverá ser permitida a água dessa chuva entrar dentro dela.

Certamente que nesse caso, uma das primeiras coisas que a chuva molharia, seria o seu saco de dormir. Até porque, você poderá precisar dele logo mais à noite!

Uma boa mochila, além de verdadeiramente impermeável, traz detalhes de fabricação que a protegem contra a entrada de água através da parte mais susceptível, que são os zippers.

Admitindo que é mesmo muito melhor prevenir do que remediar, assim como nós, as nossas mochilas devem ter a sua própria capa de chuva. Em geral elas são vendidas à parte, e dão a oportunidade de, se quisermos que ela ressalte em meio à baixa luminosidade, escolher uma de cor bem "berrante".

As divisórias da sua mochila devem atender às necessidades de armazenamento dos pertences. Assim, a existência de compartimentos externos, evitará que a cada vez que você precise retirar algo, necessite antes tirar o que está por cima.

Bolsos externos para acondicionar cantil (de um litro) com água, são desejáveis. Entretanto, algumas pessoas preferem guardar a água dentro da mochila! Elas alegam que a facilidade de alcançar o cantil, poderá levar a beber mais água do que o necessário, terminando por encher demais o estômago. 

A rigor, devemos nos hidratar durante as caminhadas, bebendo regularmente apenas um pouquinho de água de cada vez, antes mesmo de sentirmos sede. Além do mais, muita água de uma só vez, não promove a hidratação do organismo da forma desejável. Acho isso compreensível, pois é a mesma diferença entre aguar a plantinha todos os dias, ou derramar logo sobre ela um caminhão pipa.

Boas mochilas dispõem de mecanismos que evitam a transmissão do calor para a superfície de contato nas costas de quem as leva. Materiais isolantes térmicos são especificados para reduzir em até 5ºC a temperatura nas costas do mochileiro, em relação à temperatura na superfície da mochila em contato.

As cintas de amarração da mochila ao corpo, além de ajustáveis, devem assegurar que ela possa ser adequadamente presa à cintura, onde deve se concentrar a maior parte do seu peso. Dores nos ombros podem significar que a mochila não esteja corretamente posicionada.

A minha mochila (de 75 l) pesa 3,0 Kg. 

Encontrei de diferentes fontes, a mesma recomendação sobre qual o limite de peso que deve uma pessoa levar, quando se dispõe a percorrer grandes distâncias. Recomenda-se que o peso total da mochila seja até no máximo 10% do nosso peso. 

Sendo assim, quem pesar 79,90 Kg, se tiver juízo, respeitará o limite de 7,90 Kg. Se a mochila dessa pessoa (75 l) pesar 3,0 Kg, ela poderá levar de pertences, além da sua mochila, 4,99 Kg! 

Naturalmente isso deve ser considerado como uma referência e pessoas há que terminam por levar a suas próprias expensas, mochilas que chegam a ultrapassar os 15%, e até 20 % do seu peso. 

Essas pessoas geralmente ao comentar sobre as suas experiências ao longo do caminho, falam também sobe o tema: arrependimento.

A relação de compromisso entre o que levar e a obediência aos limites de peso, é uma primeira questão com que é preciso nos depararmos seriamente.

Sinto porém que é momento de fazer uma pausa.

Continuarei na próxima postagem, sobre a questão do conteúdo da mochila. 

Enquanto isso pensemos em como são inexoráveis, as leis da natureza! Conhecê-las, admiti-las, considerá-las adaptando-nos a elas, é fundamental para uma vida melhor.

O peso é igual ao produto da massa, pela aceleração da gravidade. O que nos resta, nesse caso, é levar menos massa! Do contrário terminaremos por aí bufando por levar mais do que deveríamos e certamente, mais do que o necessário.

Essa talvez, seja uma das primeiras lições a aprender durante o caminho, mas que melhor mesmo é já ter aprendido antes de ir... 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Bolhas, ampollas, blisters...

Napoleão Bonaparte, que um dia também fez a travessia dos Pirineus, dizia: "O impossível só existe para os tolos e incapazes". 

Claro, a gente sabe, isso não é verdade. 

Mas ele disse!

A questão que primeiro me ocorreu quando decidi fazer o Caminho, foi:

É impossível caminhar quase 800 km sem fazer bolhas nos pés? 

Não é!

Porém, quem não conseguir, nem por isso poderá ser considerado tolo nem incapaz!

Ainda que nos prevenindo contra a formação de bolhas, poderemos ganhar algumas. Mas quem sabe elas sejam poucas... Muito menos das que teríamos se não estivéssemos atentos a essa ameaça!

Afinal há como evitá-las ou pelo menos minimizá-las.

Essa questão é considerada relevante, por muitos dos que já fizeram o caminho.

O desconforto que elas podem causar, interfere com o estado de ânimo dos caminhantes, e na sua programação. Não raro elas foram a causa até mesmo da desistencia de muitas caminhadas.

Por isso as bolhas tornaram-se o meu primeiro foco de atenção, durante esta minha fase atual de preparação.

Então é pertinente saber: alguém já fez todo o caminho sem criar bolhas?

A resposta é sim!

Hape Kerkeling, autor de "Volto já!", livro no qual conta a sua experiência através de todo o Caminho, fez bolhas sim!

Porém as bolhas só aconteceram, quando depois dele percorrer todo o caminho francês, a partir de San Jean Pied de Port, jogou fora suas velhas botas canadenses, e comprou um sapato novo. Calçou-os para a sua permanência por mais dois dias em Santiago de Compostela, quando finalmente elas apareceram.

O calçado portanto é um grande responsável pela formação de bolhas, embora as meias também ajudem a evitá-las.

Daniel Agrela, em seu excelente "O Guia do Viajante de Santiago" - Uma Vida em 30 dias, alerta para não se economizar em três itens essenciais: A mochila, o saco de dormir e as botas. Naturalmente ele está se referindo a importância de sua qualidade.

Embora ele se refira às botas, os tênis apropriados para trekking tem lá os seus adeptos. Há quem defenda a utilização do tênis em lugar das botas, alegando que estas podem causar dor nas panturrilhas!

O argumento favorável às botas porém, é de considerável importância. Uma boa bota poderá evitar que em terrenos irregulares, soframos uma torção do pé. 

Soldados usam botas e não tênis para andarem por terrenos irregulares, para não saírem por aí entortando os pés.


Além disso, uma boa bota poderá evitar além das torções, as dores nas costas e pernas.

Hape Kerkeling usou botas, as botas eram muito boas, e enquanto ele as usou não teve bolhas, embora por várias vezes torceu o pé, mas sem graves consequências que o impedissem de continuar.

Decidi então por uma boa bota. 

A propósito, nunca pensei que um dia me interessaria por bolhas! Por isso me senti intrigado ao usar o Google com essa finalidade. A vida é mesmo intrigante, em seus mais variados aspectos...

Porém, ao consultar diferentes especialistas sobre um mesmo assunto, é curioso constatar que não raras vezes, eles entram em conflito e nos deparamos com muitas contradições. Para quem apenas quer saber o que é mais recomendável fazer, resta o impasse.

Não quero passar a frente nenhuma dúvida.

Passarei à frente as conclusões a que cheguei depois que resolvi os impasses. Assim como terminei desacreditando alguém, me desacreditem também, se não estiverem convencidos(as) do que digo. Você estará agindo como recomendou o Buda, em relação aos princípios do budismo.

Aprendi que as bolhas resultam da fricção da pele com a meia e/ou o sapato. 

Se a pele está úmida, a sua resistência diminui, e aumenta a possibilidade de com o atrito, ocorrer a formação de bolhas.


Por isso encontrei recomendações de não tomar banho antes de começar a caminhar. Principalmente banho quente. Melhor tomar banho na noite anterior, antes de ir dormir.

Usar hidratante nos pés, segundo a dermatologista Bianca Gastaldi, torna a pele mais macia, e consequentemente mais resistente às agressões.

Também antes de calçar-se, convém enxugar bastante o pé, assegurando-se de que ele esteja realmente seco.

Surge uma bolha, quando a derme se solta da epiderme, e os vasos da epiderme levam a que esse espaço entre elas seja preenchido com um líquido incolor.

Pude observar o "fenômeno", em mim mesmo, usando em lugar da bota com a qual faço a minha preparação física, um tênis ruim.

Nem mais lembrava de quando no passado, isso já me havia um dia acontecido. Talvez eu me lembre, se em mim fizerem uma regressão!

Sabe o que fiz para que sarassem? 

Não fiz nada!

Depois descobri que ao não fazer nada, acertara no tratamento.

O líquido incolor é anti-infectante, e com o tempo a bolha seca, porque o líquido é absorvido pelo organismo. Surge uma nova pele sobre a epiderme, e a pele que se soltou, a derme, termina por cair sendo substituída pela nova pele que surge em seu lugar.

Enquanto tive as bolhas, eu quis continuar as minhas longas caminhadas diárias, sobre as quais depois falarei, quando mudar de assunto. 

Continuei caminhando, apesar das bolhas. Só que agora usando exclusivamente as botas. Em nada senti machucar, o que foi um excelente teste para elas. As botas além de não terem sido as responsáveis pelas bolhas, eram confortáveis o suficiente para acomodá-las muito bem!

Passados alguns dias, as bolhas desapareceram e joguei fora o tênis que as provocou. Eu o havia ganho de presente, da academia onde eu malhava, antes de optar pelo Pilates.

Prosseguindo eu devo porém dizer que embora proceder assim seja o ideal, nem sempre isso é possível. Durante o caminho, as longas distâncias, a irregularidade do terreno, os aclives e declives, terminam por agravar as bolhas que surgem. 

Andar com a bolhas pode incomodar, e elas podem encher-se de sangue.

Por isso a recomendação nesses casos é de tratá-las para evitar uma infecção. Em casos de infecção torna-se recomendável procurar um médico.

O que primeiro se recomenda é não cortar a pele sobre a bolha. Ela proteje o local contra infecções. 

Recomenda-se contudo drenar o líquido sob a pele que a encobre, furando-a com uma agulha esterilizada. Deve-se lavar o local com água e sabão ou sabonete anti-bactericida, e aplicar então um spray antiséptico, e merthiolate. Não é recomendável por em cima um Band-Aid. Ele pode sair do lugar com o movimento da caminhada. Deve-se usar uma gaze, prendendo-a com esparadrapo. Naturalmente não se deve por um esparadrapo ou "silver tape" em cima. Ao retirá-los, a pele viria junto, e isso não é nem um pouco desejável.

Sempre que possível deve-se deixar o pé respirar. Usar sempre que possível um chinelo, evitando de abafar o pé, para que a cicatrização seja mais rápida.

Embora eu tenha lido sobre a recomendação de "costurar" a bolha passando-lhe um fio pela pele que a recobre, após furá-la com uma agulha esterilizada, fico com quem reprova essa prática. A linha, é de material orgânico e pode favorecer infecção.


Além do mais, não me imagino costurando!


Quanto ao calçado, não deve ser nem folgado, nem apertado, existindo uma medida ideal de meio termo. 

No caso de botas, convém assegurar-se de que sejam impermeáveis. Há botas fabricadas com uma tecnologia Gore Tex, que impedem a entrada de umidade, mas facilitam a sua saída.


Deve-se dar atenção a amarração das botas, para que o pé e em especial os calcanhares estejam bem acomodados no interior delas.


As meias tem um papel importante na prevenção das bolhas, por melhor que sejam as botas.


Encontrei divergências entre o que dizem vários artigos sobre as meias mais recomendadas. Diz um autor: "use meias de algodão". Diz um outro: "jamais use meias que tenham sequer 1% de algodão".


Existe contudo unanimidade quanto as meias de lã pura. Dessas que raramente encontramos aqui no Brasil. 


O argumento contra as meias de algodão, decorrem da sua capacidade de absorção e retenção dessa umidade. As meias de lã, permitiriam a melhor respiração, isto é, a transferência dessa umidade para o exterior de uma bota fabricada para respirar.


Por outro lado, para longas caminhadas e para atletas que correm grandes distâncias, uma forma recomendável de prevenir bolhas, é usar uma meia muito fina (os Liners) de material sintético, que aderem aos pés. 


Por cima desta meia, calçar a meia de lã, na opinião de alguns, ou mesmo de algodão na opinião de outros. Esta seria uma meia grossa, mas que dependendo da época do ano, e em se tratando de uma meia de lã, existem alternativas de escolha para torná-la apropriada à estação.


Esse arranjo funciona assim: a Liner adere à pele do pé, e evita que ela friccione com a segunda meia. Ela própria que sofre esse atrito. A umidade dos pés passa através da meia fina, para a meia externa, que absorve toda a umidade, facilitando a meia de lã, melhor que a de algodão, a sua eliminação para o exterior da bota.


Além disso, antes de calçar as botas para começar a caminhada, é recomendável passar vaselina solida ou uma pomada nos pés, para reduzir o atrito. Em especial, entre os dedos. Lugar onde a eventual formação de bolhas, não permite colocação de esparadrapos para segurar uma gaze. 


Para evitar a sensação para muitos desagradável de ter os pés untados deslizando dentro das botas, deve-se passar muito pouco vaselina! Apenas nas partes mais susceptíveis de formação de bolhas. 

É recomendável que caso durante a caminhada venha a sentir qualquer desconforto nos pés, não insistir em prosseguir, sendo preferível verificar o que está acontecendo, para não agravar a situação.

Embora pareça óbvio, o calçado deve ser usado com antecedência ao início do Caminho, para amaciá-lo ou lanceá-lo. Encontrei quem recomendasse começar fazer uso dele pelo menos com três meses de antecedência, e também quem categoricamente dissesse para começar a usar o tênis ou a bota, com um ano de antecedência.

Comecei a usar a minha bota com sete meses de antecedência. Mas a uso com tanta frequência, que já começo a ficar preocupado que ela acabe antes de eu fazer o caminho!

Naturalmente, Hape Kerkeling não se constitui em um caso tão isolado assim, de pessoas "blisters free". Não raro encontro alguém que conheço, e que fez o caminho inteiro, sem queixas de formação de bolhas nos pés. 

Necessariamente, não terão seguido todas as recomendações que tenho ouvido. Entre as quais se acrescenta a de antes de que se formem as bolhas, colocar um tipo especial de esparadrapo chamado Micropore nos locais do pé mais sujeitos ao atrito. 


Há pessoas mais ou menos sensíveis a formação de bolhas nos pés. Acredito que isso explica o fato de que apesar de todos os cuidados, alguém possa ganhar algumas bolhinhas, enquanto outras cuidando-se relativamente mal, possam sair-se muito melhor.


Em todo caso é melhor prevenir do que remediar.


Vou ter bolhas? 

Ainda que as tenha, não me considerarei tolo nem incapaz!