sexta-feira, 25 de abril de 2014

E agora vou!



"Quero ignorado e calmo

Por ignorado e próprio

Por calmo, encher meus dias

De não querer mais deles

Aos que a riqueza toca

O ouro irrita a pele.

Aos que a fama bafeja

Embacia-se a vida.

Aos que a felicidade 

É sol, virá a noite.

Mas ao que nada espera

Tudo que vem é grato."

Fernando Pessoa.


Como Estou me Sentindo?

Estou me sentindo MAGRO!

Muito magro!

E minha expectativa de iniciar daqui a pouco 'O Caminho", não é uma expectativa ansiosa.

Acredito porém que posso estar às vésperas de dias memoráveis.

Afinal, "O Caminho" foi uma experiencia transformadora para a maioria das pessoas que conheço.

Difícil é encontrar quem o tenha percorrido apenas uma única vez!

Faz 15 anos que despertou-me a curiosidade, o entusiasmo com que voltou do caminho, um dos meus amigos. E outros o sucederam...

Talvez eu tenha reunido três coisas, que me estimularam a ir: a curiosidade de descobrir a eventual magia desse caminho, o espírito de aventura que trago sempre comigo, e a minha atração por novos desafios.

Sei que não caminharei só, nenhum instante!

Ao por o pé na estrada, acredito no diálogo que logo se estabelecerá, entre o meu corpo e a minha mente.

As vezes me observo tão "encontrado", que indago se eu não estaria indo em busca de "desencontrar-me" nem que seja um pouco!

Não gostaria que percorrer 800 km a pé, resultasse apenas em um razoável exercício de pedestrianismo.

Também preferiria trazer do caminho para a vida, mais do que estou levando da minha vida para o caminho, e que não é pouco!

Portanto devo admitir que gostaria que essa fosse uma viagem muito especial!

A relação entre as minhas viagens anteriores e a do Caminho de Santiago, pode ser expressa pela relação entre o palácio construído por Reis para exaltar o seu poder temporal, e a Catedral medieval a simbolizar uma busca do que há de mais elevado no espírito humano.

Enquanto isso, nem sei se conseguirei caminhar essa distância tão longa!

Não sei se não farei calos, ou quantos calos farei.

Levo comigo o que a vida me tornou.

Vejo "O Caminho" como uma metáfora da vida.

Nesse caso é compreensível dizer que não consigo antevê-lo.

Pretendo que ele ele seja como desejo, mas ele poderá ser até ainda melhor, se for para imitar a minha vida.

Mas há um sentimento que trago comigo, mais permanente que o sentimento de estar magro.

Esse costumo levar para toda parte, e levarei também para "O Caminho".

É o meu sentimento de gratidão pela vida.

Quanto a minha atitude básica, será a de "entrega".

"Entrega" no sentido da aceitação daquilo que vier a ser.

E viva a vida, vivam Os Caminhos que ela nos oferece, viva a esperança sempre presente.

O Que Levarei na Mochila.


A importância de informar-se antes de comprar itens que pretende levar para a caminhada, ficou muito clara para mim.

Aproveitando que fazia uma viagem e encontrava-me em lugar ideal para visita a grandes lojas de materiais esportivos, com amplas alternativas de escolha, comprei os meus primeiros itens para o Caminho de Santiago.

Ainda faltavam um ano e seis meses para a viagem a Santiago.

Aconteceu que depois eu precisaria abandonar alguns dos itens então comprados, e substituí-los por outros menores e mais leves.

Foi o caso da mochila de 65 l que substituí por outra de 42 l, e do saco de dormir de 890 g, que troquei por outro de apenas 550 g.

Ao admitir que o peso é de fato o principal inimigo do caminhante, comecei a me livrar da ilusão do indispensável.

Mas o importante é que ao final, levando em consideração as várias recomendações de pessoas que me antecederam no caminho, terminei por compor uma mochila por demais "decente".


A foto acima mostra que acondicionei coisas segundo critérios ditados pelo bom senso.

Observe na foto acima: Em vermelho, um "First Aid Kit". Depois direi o que está dentro. 

Em amarelo, o lugar para acessórios associados à câmera fotográfica (sim! Ela vai!). 

Há então dois itens cinzas e dois pretos. 

Nos de cor cinza, o mais gordinho leva o meu casaco de frio, um cachecol, uma camisa e uma calça corta vento. O outro, é uma "necessaire", e sobre os itens dentro dela, comentarei depois. 

Nos de cor preta, no maior está uma muda completa de roupa. O menor, guarda alguns vestuários adicionais, basicamente os que levo em quantidade de três, além de uma camisa segunda pele.

À direita dos dois bastões de caminhada, há mais três itens: o saco de dormir, um poncho (capa de chuva que cobre a mochila) e uma papete. Eles irão no bolso externo inferior e frontal da mochila.

Para falar de tudo que irá comigo e não apenas o que estará dentro da mochila, devo acrescentar:

Na cintura, o tradicional "money belt", que passa assim a fazer parte do meu corpo, pois nele irão os Euros e o passaporte. Levo ainda, para usar  pendurado no pescoço, ou dependendo da ocasião em algum bolso externo da mochila, um penduricalho onde levar o dinheiro para gastar a cada dia, a credencial de peregrino, o cartão do seguro...

Fora isso, carregarei sempre à mão, a minha segunda câmera fotográfica, que pesa 375 g, bem menos que a "oficial", que passa de 01 kg, mesmo com a mais leve das lentes. Ela irá em uma "case" a tiracolo, que ganhei emprestada.

Em bolso superior externo da mochila, coloquei tampões de ouvido e uma minúscula lanterna de LED.

Sim! Há um bolso frontal cujo ziper é inclinado, onde estou levando uma pequena caderneta para anotações, uma caneta e cópia frente e verso do Manual O Caminho de Santiago, do El País.

Acho que relatei tudo! Além disso há apenas aquilo com que irei vestido: botas, meias, calça, cueca e camisa. Exceto as botas, alternarão com a muda de roupas que levo, durante o caminho.

Devo acrescentar que os bastões de caminhada, que me foram gentilmente emprestados, decidi que não os levarei. Na foto eles apenas posam em lugar dos que comprarei ao chegar em Madrid. Provavelmente em uma das sua lojas Decahtlon. 

Há dois motivos para não levá-los. Primeiro, que pretendo ter sempre comigo a mochila como bagagem de mão. Não despachá-la é prevenir extravio, o que embora não frequente, não é  incomum.
Por medidas de segurança, eu teria que despachar os bastões como bagagem especial, o que reduziria a minha praticidade por ocasião do desembarque. Segundo, quero meus próprios bastões para futuras caminhadas! 

Quanto ao chapéu, ele também ficará! Já que irei a Decahtlon pelos bastões, escolherei um novo chapéu por lá.

Ainda aguardo chegarem as polainas que comprei com antecedência maior que todos os outros demais itens que adquiri e recebi, através do comércio eletrônico.

Elas agora só tem três dias úteis para chegarem. Caso contrário a Decahtlon de Madrid agradece à Receita Federal do Brasil, que as retem morosamente na sua unidade de Santa Catarina, já faz quase um mês, segundo a agência local dos Correios.

Para tornar o relato mais detalhado para os que queiram orientar-se tomando essa arrumação como referência, descreverei um pouco mais essa bagagem.

"First Aid Kit":


Adaptei às minhas conveniências as recomendações gerais sobre medicamentos, tendo inclusive ouvido a opinião do meu médico particular.

Fazem parte desse estojo, remédios para diarreia (Floratil 200 mg), dores e febre (Tylenol 750 mg), cólicas (Buscopan), e para Náuseas ou Vômitos (Vonau Flash 8 mg).

Acessórios para a Câmera:


Um carregador de bateria, uma bateria reserva, um adaptador de tomada, um pequeno tripé, e um controle remoto.

Casaco de frio, cachecol, e camisa e calça corta vento:


Por praticidade, ocupando dentro da mochila o local de mais fácil acesso.

A Necessaire:


Nela carrego no seu bolso externo, três suportes de porta para pendurar neles utensílios que costumamos levar para o box do banheiro. Também um daqueles sticks que se usa em motos, com dois ganchos nas extremidades, para estender roupas.

No bolso interno, que é maior e tem várias divisões, estão sabonete (o mesmo usado para lavar algumas peças do vestuário), escova de dentes, pasta dental, fio dental, um cacau (para se o frio for de rachar, rachar os lábios), e um gel da Granado contra assaduras.

Há uma divisão interna onde estou levando alfinetes de segurança, usados para prender na mochila peças de roupa que precisem enxugar enquanto caminho.

Uma muda de roupas:


A muda de roupas consiste de uma calça, uma camisa, uma cueca e dois pares de meias (um par de meia fina e um par de meia de lã).

Itens de vestuário, adicionais:


Contém: Uma toalha - fralda de bebê, uma camisa segunda pele, uma meia fina (que faz par com a meia que usarei na viagem Recife - Madrid), uma terceira cueca, e um terceiro conjunto de dois pares de meia (um par de meia fina e um par de meia de lã). 

Concluiria, para ser detalhado e preciso, que acrescentei ao bolso superior externo da mochila, onde já estavam a pequena lanterna de LED e alguns tampões de ouvidos, um saco impermeável para roupa suja. Dentro dele, alguns saquinhos de cozinha para envolver a minha câmara e protegê-la melhor contra a chuva, quando houver essa necessidade.

Por fim a minha cabeleireira, quando fui cortar o cabelo ontem, me deu uma sugestão que me evita de levar um pente.

Adotar um "new look" que todos ao meu redor estão achando horroroso.

Consiste em após o banho, passar as mãos na cabeça de trás para frente, de modo a que nenhum fio de cabelo seja contrariado em não poder postar-se segundo a tendência natural das suas raízes. 

É permitido para evitar uma franja, fastar os fios sobre a testa para os lados.

O resultado não é bom! 

- "Cabelo de careca!"  foi o que me disse uma pessoa tão próxima       que não vou nem dizer quem foi.

                                         Me fiz entender?

Importante: 

Peso final da mochila, sem pente:  6,95 Kg.

(valerá a  pena? Claro que sim! "Tudo vale a pena se a alma não é pequena."  :-))


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Está Chegando a Hora.

                                      Como se fora o Indiana  Jones.

Manter a frequência das postagens durante a fase preparatória, tornou-se difícil para mim ao longo dos últimos meses. 

Intensifiquei a minha preparação física, e dediquei-me a outras atividades relacionadas à viagem, entre elas a aquisição dos itens complementares necessários a composição final da mochila. Tive o cuidado de programar todas as minhas ações, de modo a que nada ficasse para a última hora.

Mas é claro que algo sempre termina ficando por último!

Alguns itens, comprei-os pela internet.

Sobre a preparação física:

Alcancei fazer caminhadas diárias de 25 km por dia, de segunda a sexta, quando ainda faltavam 15 dias para a viagem. Hoje só faltam seis!




Aumentei a distância gradativamente, passando dos 15 para os 25 quilômetros por dia, percorridos em aproximadamente 4 horas. Uma velocidade média de 6 km/h, pois importa menos a rapidez e muito mais duração do exercício. No Caminho de Santiago, a velocidade média é da ordem de 4 km/h, e são feitas paradas técnicas para dar chance aos pés! Eles vão adorar, pois durante a minha preparação não tiveram esse privilégio.

Andar 25 km sem intervalo, depois dos 15 km iniciais fizeram doer os pés. O condicionamento fez eles começarem a doer cada vez mais tarde, até que os 25 km pudessem ser alcançados com menos incômodo para eles.

Várias pessoas já me alertaram para a atenção extraordinária que ganham os pés, sobre os quais pisamos tanto, sem nem ligar! Eles costumam exigir mais respeito e atenção, a partir de certo limite.

Nunca senti desconforto muscular, nem cheguei a ficar dolorido. Também sob o aspecto cardiovascular, sempre me senti "o dez".

Fiz algumas caminhadas de rua, iniciando com uma ida e volta de onde moro  (bairro do Parnamirim) ao Recife Antigo, perfazendo um total de 15 km.

Também fiz uma caminhada até o município vizinho de Camaragibe, ao bairro de Aldeia, que incluiu pela primeira vez, subir ladeiras. A distancia total foi de 20 quilômetros.

Pretendo encerrar esta semana os treinamentos, indo a pé de Parnamirim a Olinda, e lá subir e descer algumas ladeiras, o que já não me assusta.

Não fiz nenhuma trilha onde pudesse experimentar caminhar com a mochila! Ajustei-a contudo, inclusive com a ajuda e dicas finais de amigos mochileiros.



Testei a técnica de subir ladeiras a passos curtinhos, e deu muito certo! Quem me viu fazendo assim pode até ter pensado que eu estava subindo a ladeira operado! Mas o importante é que não estava.

Faz cinco dias que fui ao Pilates pela última vez antes da viagem, quando completei um ano de prática de preparação para fazer o Caminho.


Meu peso, que em abril de 2013 era de 82,5 Kg, diminuiu para os 76,85 Kg, e a última pesagem foi após a Páscoa. Emagreci portanto aproximadamente 5,5 kg! De volta ao meu corpinho dos tempos do bandejão, na faculdade.

Por fim, a partir da semana santa, cujos feriados acabamos de usufruir, tirei um pouco o pé do acelerador, e com relação ao estado físico alcançado, me sinto confiante. 

Sobre as demais atividades:

Gostaria de ter tido o tempo necessário, para postar sobre pelo menos três outras reuniões das quais participei na AACS (Associação dos Amigos do Caminho de Santiago).

Foram duas reuniões mensais como as que sempre acontecem no primeiro domingo de cada mês, e uma especial.

A reunião especial, trouxe para uma palestra, o professor espanhol Pablo Arribas Briones, da Universidade de Burgos, autor do livro "Pícaros e Picaresca No Caminho de Santiago".

Faltavam ainda uns 40 dias para a minha viagem, quando ainda que tardiamente, consultei uma excelente nutricionista funcional, e que a propósito, por 23 anos foi a nutricionista do segundo maior time de futebol de pernambuco, o Sport Clube do Recife (o maior é o Santa Cruz). :-)

Após três visitas a ela ao longo desse período, e seguindo fielmente as suas determinações, sinto-me do ponto de vista energético, à semelhança de quem andou tomando esteroides anabolizantes! Muito bom! Muito bem! Por enquanto!

Também lamento que não me foi possível postar sobre as recomendações nutricionais que adotei. Ainda bem que prometi na apresentação dos objetivos desse Blog, que não seria perfeccionista!

E finalmente, empreguei um tempo considerável, para escolher criteriosamente cada item que ainda me faltava, para "fechar a mochila". O que terminou acontecendo semanas antes da data do embarque.

Segui atentamente as recomendações dos meus amigos que já fizeram o caminho. Antes de ouvi-los, já comprara entre outros, a mochila, o saco de dormir e até mesmo um colchão térmico. O colchão térmico descobri que deixara de ser necessário e o abandonei. A mochila, de 65 l + 10, pesando 2,4 kg; foi considerada um pouco acima do recomendável para quem vai andar tanto, sempre com ela às costas. Resolvi comprar uma outra menor, do mesmo fabricante (Deuter), de 42 l e pesando 1,7 Kg. Quanto ao saco de dormir, também substituí o que primeiro comprara, de 880 g, por outro mais leve, de apenas 550 g.

Que tantas coisas outras ainda precisei comprar?

Pretendo antes de partir, em uma postagem última dessa fase anterior à viagem, descrever a composição da minha mochila.

Quanto as compras pela internet:

Um poncho, uma camisa corta vento (junto veio uma calça - mas que talvez eu não a leve), uma segunda calça, cuecas, meias com a tecnologia Coolmax, um cachecol, um casaco de frio, as polainas e algumas necessaires onde organizar dentro delas, todas essas coisas. 

Pequenas coisas ainda ficaram para o final: alfinetes de segurança, agulha já com o fio, um pente...

As meias Coolmax que mencionei acima, me provocaram ao testá-las, uma espécie de dermatite de contato. A vermelhidão nos pés e até na parte da perna tocada por elas, me fez substitui-las imediatamente por meias finas da LUPO, dessas meias sociais de poliamida.

Ao encerrar esta fase anterior à viagem, percebo o quanto as experiências do "Antes", foram valiosas. Alguns pequenos problemas que teriam acontecidos durante o caminho foram antecipados, e previamente solucionados.

O que caracterizou esse período foi principalmente a dedicação à preparação física, que além das caminhadas diárias incluiu a frequência assídua as seções de Pilates, o cuidado com o acompanhamento médico, a visita a minha odonto para uma revisão dentária, a consulta à nutricionista funcional (de atletas! né? :-) ), as muitas leituras sobre O Caminho de Santiago, os vídeos do YouTube, os filmes (como ""The Way"), consultas ao Manual El Camino de Santiago do El País, as novas amizades feitas no contexto desse interesse comum em fazer o Caminho, a reaproximação com velhos amigos "Caminhantes" e até "Mega Caminhantes", e certas surpresas agradáveis que tomara ainda poder contar.

Começo então a contagem regressiva...

Mas essa não será a última postagem. Programei-me de modo a que existisse sempre espaço, para o essencial.

Afinal, por que estou indo?

Como estou me sentindo às vésperas da partida?

Farei deste tópico, o tema da minha última postagem.